sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Especial - Os Grandes Sambas da História - 3 (1997)

Depois de séculos sem postar, volto com a coletânea dos melhores sambas da história.

Temos aqui o terceiro disco, e espero chegar ao 40º...

Gosto muito dessas coletâneas pela mistura de nomes e pela diversidade existente dentro de um determinado gênero, uma frase sintetiza tudo isso na minha opinião, não me lembro da autoria, mas diz que "O samba não é uma coisa só". E realmente não é.

A partir dessas principais obras despertamos nossa curiosidade e naturalmente nos aprofundamos na história dos compositores e intérpretes. Minha colaboração pra vocês hoje é essa.

Destaco nesse disco duas músicas lindas, são elas: "Barracão" de Luiz Antônio e Oldemar Magalhães na eterna interpretação de Elizeth Cardoso, Jacob do Bandolim e Conjunto Época de Ouro, além de "O orvalho vem caindo" de Kid Pepe e Noel Rosa, cantada aqui por Almirante.

Músicas (Compositor(es)) - Intérprete(s) / Ano da gravação.

1. A voz do morro (Zé Keti) / 1973
2. Barracão (Luiz Antônio e Oldemar Magalhães) - Elizeth Cardoso, Jacob do Bandolim e Época de Ouro / 1968
3. Falsa baiana (Geraldo Pereira) - Cyro Monteiro / 1944
4. Estás no meu caderno (Benedito Lacerda, Oswaldo Silva e Wilson Batista) - Mario Reis e Conjunto Gente do Morro / 1934
5. Minha embaixada chegou (Assis Valente) - Carmen Miranda / 1934
6. O orvalho vem caindo (Kid Pepe e Noel Rosa) - Almirante / 1933
7. Antonico (Ismael Silva) / 1973
8. Agora é cinza (Bide e Marçal) - Diabos do Céu e Mário Reis / 1933
9. Tenha pena de mim (Babaú e Cyro de Souza) - Aracy de Almeida / 1973
10. Que bate-fundo é esse? (Bide e Marçal) - Jorge Veiga / 1973
11. Adeus batucada (Synval Silva) / 1973
12. Amigo urso (Henrique Gonçalves) - Moreira da Silva / 1941

Apreciem pessoal...

Abraços

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Altamiro Carrilho - Choros Imortais (1964)


Olá pessoal, estou retomando o blog, e antes de postar qualquer coisa, gostaria de editar a última postagem feita em fevereiro pelo Fernando Reisler.

Ele falou sobre o disco "Choros Imortais" de Altamiro Carrilho, que nos deixou nesse último dia 15.

Aproveito o texto do Fernando para essa postagem, homenageando Altamiro Carrilho, sem dúvida um dos chorões imortais !


Olá caros amigos!

Embora este disco seja digamos que "manjado", um "clichê" dificilmente é chamado assim se não faz juz por sua popularidade e/ou valor. Este disco exemplifica o caso do tipo de disco que mudou a história da música no geral e a história musical pessoal de muitos e muitas gerações. Discos como esse nunca saem de moda, mesmo porque são maiores que isso.

Trago-o porém, porque em uma destas andanças virtuais me deparei com uma publicação datada de 1996 dedicada ao choro, produzida no Rio de Janeiro no intuito de resgatar, difundir e exaltar o choro. O conselho editorial era constituído por um time que "não entendia nada do assunto" : Ary Vasconcellos, Maucício Carrilho, Pedro Amorim, Luciana Rabello, Henrique Cazes, Sérgio Cabral, Hermínio Bello de Carvalho e Jairo Severiano.

Havia uma seção neste que é o volume 1 do "Roda de Choro" (sucessor do número 0 que marcou a estréia da publicação) que se chama "Raridades", e traz uma resenha de Maurício Carrilho para este disco que na época tinha sido esgotado em LP e não havia sido relançado em CD.

Vou transcrevê-la:

"Tinha sete anos quando aconteceu o fenômeno. Meu pai colocou na velha vitrola um disco chamado "Choros Imortais". Eu chapei, enlouqueci, fanatizei, enlouqueci ou alguma coisa do gênero. Ouvi esse disco mais de um ano sem parar. Passei dezenas de tardes repetindo quatro, cinco, sei lá quantas vezes seguidas, e a cada delas descobria alguma coisa nova. Numa destas tardes eu estava sentado no chão, colado no auto-falante para não perder nenhum detalhe, e no entusiasmo de uma baixaria em terças espetacular feita pela dupla Dino e Meira, desloquei a lata de leite Glória que fazia as vezes de pé do móvel e quase que a imortalidade dos choros causa a morte do fanático ouvinte. Fui salvo pela dona Zélia, minha mãe, que me tirou debaixo daquele monstrengo. Não posso, logicamente, falar com isenção deste disco. Nele eu descobri a música. Descobri que além da melodia há um universo de sons no acompanhamento e aprendi a saborear cada levada do violão, as baixarias do sete cordas, palhetadas do cavaco e quebradas do pandeiro.

Sendo assim, darei minha opinião passional sobre esse trabalho: é o melhor disco de choro de todos os tempos. E provo: o repertório é impecável e a atuação dos músicos varia entre irretocável e absolutamente genial. Tá achando exagero? Então lá vai, o time é esse: solando na flauta Altamiro Carrilho (que é também o produtor do disco). No acompanhamento o Regional do Canhoto formado por: Dino no sete cordas, Meira no violão, Canhoto no cavaquinho, Orlando Silveira no acordeon e Gilson no pandeiro. Eram na época os melhores em seus instrumentos no gênero choro (e alguns ainda o são hoje, passados mais de trinta anos). Porém o que mais me impressiona nesse trabalho não é o talento individual de cada músico e sim a perfeição do conjunto. Os arranjos são simples e ao mesmo tempo surpreendentes, as harmonias perfeitas, as dinâmicas e a combinação rítmica das levadas de Dino, Meira e Canhoto, marca registrada desse regional, soam em perfeita sintonia com a flauta de Altamiro. As intervenções de Orlando Silveira são sempre oportunas, as baixarias a duas vozes feitas por Dino e Meira esbanjam bom gosto, aliás o que o Dino tocou neste disco é assunto para um tratado de contraponto. E tem a sabedoria e o balanço do Meira, o maior seis cordas de choro de todos os tempos, o cavaco do Canhoto preenchendo os espaços com suas inconfundíveis quiálteras e o pandeiro do Gilson com as platinelas bem soltas, nos dando a ilusão de ouvirmos dois pandeiros. E o Altamiro? Suas atuação em "Língua de Preto" (Honorino Lopes) e "Harmonia Selvagem" (Dante Santoro) é simplesmente desconcertante. Leva o equilíbrio entre a técnica e o balanço às últimas consequências. O improviso na terceira parte de "Chorei" deveria ser transcrito e incorporado à composição do mestre Pixinguinha. Em Choros Imortais tem tudo isso e mais uma impressionante vontade de tocar.

É muito importante lembrar que em 1964, ano no qual esse disco foi gravado, o choro já estava completamente marginalizado. A Bossa Nova já havia estourado e os "idiotas da objetividade" como diria Nelson Rodrigues, que sempre estiveram em maioria nas gravadoras, rádios, TVs e imprensa, achavam que tudo que não era um cantinho um violão, um barquinho e coisa e tal não tava com nada. O caminho para a Jovem Guarda e toda sua baboseira estava sendo aberto. Apesar do clima desfavorável dessa época, a garra, o tesão de tocar desse timaço de "Choros Imortais" permaneceu inabalável e deve servir de exemplo a quem quiser fazer música nesse país.

Se você tem esse disco cuide dele muito bem, se não tem torça para que os atuais proprietários dos fonogramas da extinta Copacabana tenham a dignidade de relançar em CD o melhor disco de choro de todos os tempos." - Maurício Carrilho.

Não vou falar mais nada. (Fernando Reisler)

Altamiro Carrilho - Choros Imortais

01 - Doce de Coco (Jacob do Bandolim)
02 - Língua de Preto (Honorino Lopes)
03 - Naquele Tempo (Pixinguinha / Benedito Lacerda)
04 - Harmonia Selvagem (Dante Santoro)
05 - Evocação (Rubens Leal Brito)
06 - Urubatan (Pixinguinha / Benedito Lacerda)
07 - Chorei (Pixinguinha / Benedito Lacerda)
08 - Cinco Companheiros (Pixinguinha)
09 - Sofres Porque Queres (Pixinguinha / Benedito Lacerda)
10 - Cuidado Violão (José Toledo)
11 - Lamentos (Pixinguinha)
12 - Carinhoso (Pixinguinha / João de Barro)